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Mostrando postagens de agosto, 2023

O universo do olhar

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Olhar da arte, de Ana Felix Garjan Um olhar pode ser muito mais poderoso do que se pensa. O olhar genuíno, empático, disponível, é como uma pequena janela que conduz a vasto universo interior e único. A princípio pode parecer uma simples esfera oca e colorida. Mas ele recebe a luminosidade, e também meu olhar no dele, daquele rapaz, assim como o meu recebe e acolhe a luz que vem do outro. A prática de ficar em círculo e olhar nos olhos de outro homem por certo tempo a princípio é extremamente desconfortável, pois quando olho frente a frente, também sou olhado. Como conseguiria sustentar ser penetrado tão profundamente assim por um estranho? Ele vai ter acesso aquilo de mais íntimo que guardo aqui dentro! Vai acessar todas as minhas fraquezas, minhas inseguranças infantis não trabalhadas - ou ainda em processo de autodescoberta - a vergonha que guardo como se fosse uma meia velha e furada no fundo de uma gaveta, e que não permito que os outros vejam seu furo, sempre enfiando-lhe dentro

Quando o fim chega

  Então é isso. A mensagem dele chegou. A coragem que eu nunca tive antes e que veio do outro para me ensinar uma das lições mais importantes que qualquer pessoa deve aprender: a respeitar o fim das coisas.  Eu coloquei um fim na nossa relação, porém demorou muito tempo para que eu verbalizasse isso. Foi necessária toda uma montanha-russa de emoções, descontentamentos e traições que culminaram numa nova paixão. Efêmera, intensa, que chegou como um tsunami desde o primeiro dia que nos conhecemos. Esse tsunami saiu arrastando todas as raízes e construções capengas que não estavam firmemente assentadas no solo árido da nossa relação de tantos anos.  Não teria sobrado pedra sobre pedra? Claro que teria. O amor, o carinho e a admiração estavam lá ainda, debaixo dos escombros. As raízes mais profundas que nutriram nossa vida a dois por tanto tempo jamais seriam, e não serão, arrancadas mesmo que todas as placas tectônicas do planeta colidissem de uma só vez.   Tentamos e tentamos, ambos, esc

Uma morte simbólica no Dia dos Pais

     Chegou mais um dia dos pais. Essa data sempre me passa indiferente. Até então, se resumia a mais uma obrigação de comprar um presente que eu não fazia a menor questão de dar para meu pai, ou simplesmente nem comprar é só dar um constrangido aperto de mão. Bem, desta vez não está sendo assim.  Meu processo de a proximação da masculinidade começou em 2021. Aos 31 anos. Até aquele momento, o sofrimento dos homens era pra mim algo quase impensável. Imerso em distorções da minha cabeça e outras que se escuta e lê na sociedade, eu tinha dificuldades em aceitar que, homens privilegiados e principalmente os heterossexuais, pudessem ter legitimidade em sofrer. Foi quando assisti o documentário “O silêncio dos homens”. Um amigo me recomendou esse documentário e foi quando perceb i que eu tinha dificuldades em legitimar o sofrimento dos homens por: 1) não termos, enquanto homens, muito acesso a mecanismos e espaços propícios para falar desses problemas, por isso o silêncio. Eu não era capaz